15 de novembro
Há um tempo em que a morte é um acontecimento, uma ad-ventura, e como tal mobiliza, interessa, tensiona,
ativa, tetaniza. E depois, um dia, já não é um acontecimento, é uma outra duração, comprimida,
insignificante, inenarrada, abatida, sem apelo: verdadeiro luto insuscetível de qualquer dialética narrativa.
Roland Barthes, Diário do luto, (2011, p.15).
O ESPECTRO DA MORTE paira sobre a cidade, em suas dimensões urbana e rural. No cotidiano da existência humana, revela a extensão dos seus domínios, sobretudo, ao romper a linha da vida e submeter o ser humano ao maior dos seus conflitos existenciais: a morte do outro e a certeza do aniquilamento de sua própria existência.
Diante da consciência do fim de todas as coisas, a sociedade ocidental contemporânea vai materializando no espaço, sob inúmeras perspectivas, todas as aflições, angústias, medos, e assim os vemos assumirem características peculiares na paisagem a partir das experiências humanas e de seu encontro com a dor mais profunda da alma – a morte. Na caminhada por estas zonas fúnebres da existência, notadamente nos cemitérios, o espectro da morte ganha materialidade nas mais diferentes formas construtivas em espaços urbanos e rurais, a exemplo de túmulos, capelas, memoriais, esculturas, jardins, objetos de arte, como também nas manifestações artísticas e culturais que ganham museus e espaços públicos da cidade ao explorar, em torno da ideia de morte, temáticas que desenham seus cenários.
As estruturas que têm o objetivo de celebrar a memória daqueles que se foram – em lugares que se tornam sua morada definitiva na terra dos vivos, como o são os cemitérios – ganham significados simbólicos diversos, de acordo com as experiências individuais e coletivas, bem como possibilitam perceber as (re)construções dos imaginários em torno da morte, dos mortos e do morrer. Assim, monumentos in memoriam, erguidos para celebrar a memória dos ausentes, expressam também dimensões da arte e, para bem além de darem suporte material às crenças religiosas, apresentam-nos o processo de constituição de formas de encarar este dilema último e das significações sociais para o fim da nossa existência concreta.
Nos cemitérios, em particular, o silêncio, as lembranças e a melancolia são membranas invisíveis que envolvem os vivos quando percorrem suas alamedas e vagam entre seus túmulos e jardins. Esse território, que surge no cotidiano urbano em diversos momentos, denuncia o fim da existência da vida, mas também expõe as dinâmicas de concepções culturais e ritos que se formam em torno da ambivalência estabelecida entre o par viver-morrer, dinâmicas essas capazes de se configurarem enquanto patrimônio material e imaterial para diferentes grupos sociais.
Diante das fronteiras físicas e imaginárias em contato com as quais vida e morte se combinam e se confundem, cadenciados pelo tempo de nossa existência, perguntas surgem diante do espectador contemporâneo que vivencia as paisagens fúnebres, perguntas atravessadas por tensões e pelo imponderável. São trocas simbólicas e trânsito de ideias e representações – que ganham formas e significados na concretude do espaço cemiterial, podendo assim, conduzir reflexões sobre os diferentes processos de integração entre o mundo dos mortos e o mundo dos vivos.
Mediante a perspectiva sobre a temática da morte, aqui apresentada em suas relações com a arte e o patrimônio erigido na paisagem, considera-se que há um potencial significativo a ser explorado com vistas a ampliar discussões que vêm sendo realizadas no âmbito das pesquisas em torno da história da morte, da arte e da arquitetura fúnebre, da memória e do patrimônio cemiterial.
O campo temático da paisagem no Brasil não possui uma tradição de pesquisas ou mesmo uma literatura específica voltada ao estudo de lugares dedicados aos ritos de consagração e celebração da memória dos mortos nos espaços urbanos e rurais. Ou seja, são reduzidos os trabalhos e publicações que estabelecem uma análise especificamente voltada a uma perspectiva sobre as características da paisagem desenhada por esses espaços ou que produzam teoria sobre as manifestações artísticas ou culturais assentadas sobre o signo da morte.
Os trabalhos acadêmicos ou obras publicadas (livros, artigos, ensaios, dissertações de mestrado, teses de doutorado) que abordam o tema – sob uma perspectiva voltada à cultura paisagística presente em nossas cidades – ainda são escassos, fato esse que reforça e justifica o interesse no debate do tema.
No domínio da História e do Patrimônio, diferentes leituras e interpretações já foram feitas e muitas vêm sendo realizadas no Brasil, especialmente a partir de abordagens interdisciplinares. O vigor crescente de estudos, de publicações e de interesses sociais no tema também constitui outro elemento a justificar a realização deste Seminário, uma vez que com este encontro buscamos agregar e debater os caminhos da pesquisa.
Diante do quadro aqui indicado – escasso para estudos paisagísticos, razoável para estudo em História e Patrimônio –, a proposta deste seminário, visa em primeiro lugar, a iluminar, a partir da epistemologia dos estudos da paisagem, a pesquisa dos espaços ditos fúnebres da cidade considerando a relação entre arte, memória, natureza, paisagem e patrimônio.
Mauro Dillmann | Rubens de Andrade
08 | Novembro | Dia I |
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14:00 | 14:15 | Abertura Prof. Dr. Mauro Dillmann | PPGH/UFPEL | GPPH-EBA/UFRJ. Prof. Dr. Rubens de Andrade | GPPH-EBA/UFRJ. |
14:15 | 14:45 | Mesa-redonda I Morte, enterramento e memória. |
14:45 | 15:15 | Profa. Dra. Viviani Poyer | UFSC. Morte e diplomacia no Contestado |
15:15 | 15:45 | Profa. Dra. Márcia Janete Espig | UFPEL. “Pra quem restar fica a herança/que há de servir de lembrança”: uma análise acerca das mortes e enterramentos da Batalha do Irani (1912-2017) |
15:45 | 16:15 | Me. Gabriel Carvalho Kunrath | UFPEL. |
16:15 | 17:45 | Mediação e Debate Me. Aldemar Norek. | GPPH-EBA/UFRJ |
17:45 | 18:00 | Intervalo |
19:00 | Conferência Jenny González Muñoz Memorias y lenguajes del Más Allá. El Cementerio como lugar antropológico |
09 | 11 | Dia II |
10:00 | 12:30 | Comunicações |
10:00 | 10:15 | Abertura |
10:15 | 10:35 | Uma avaliação do Turismo no Cemitério das Irmandades em Jaguarão/RS, Brasil Raíssa Souza de Moura e Alessandra Buriol Farinha |
10:35 | 10:55 | Análise da percepção emocional do visitante em um lugar fúnebre: um estudo dos comentários no TripAdvisor sobre o Cemitério do Imigrante de Joinville/SC. Alice Leoti e Tércio Pereira |
10:55 | 11:15 | Os cemitérios como modeladores da paisagem da cidade de Belém no século XIX Amanda R. de Castro Botelho e Celma Chaves |
11:15 | 11:35 | Turismo em Cemitério: Um olhar sobre o patrimônio fúnebre no Cemitério Ecumênico São Francisco de Paula, Pelotas/RS. Alice Leoti, Charlene Brum Del Puerto e Alessandra Buriol Farinha |
11:35 | 12:00 | Mediação e Debate Prof. Me. Fernando Ripe |
12:00 | 13h30 | Intervalo |
14:00 | 17:00 | Mesa-redonda II Cemitério, arte fúnebre e museus. |
14:00 | 14:15 | Abertura |
14:15 | 14:45 | Me. Elaine Maria Tonini Bastianello | UFPEL. O presente indagando a memória funerária |
14:45 | 15:15 | Profa. Dra. Luiza Fabiana Neitzke de Carvalho | UFPEL. |
15:15 | 15:45 | Prof. Dr. Diego Lemos Ribeiro | UFPEL. Museu, morte e mausoléu: apenas uma coincidência fonética? |
16:15 | 17:45 | Mediação e Debate Prof. Dr. Rubens de Andrade | EBA/UFRJ. |
17:45 | 18:00 | Intervalo |
19:00 | 19h45 | Conferência Dr. Fábio Vergara Cerqueira | UFPEL. |
19:45 | 20:00 | Encerramento Prof. Dr. Rubens de Andrade | GPPH-EBA/UFRJ. Prof. Dr. Mauro Dillmann | PPGH/UFPEL | GPPH-EBA/UFRJ. |
Data | 08 e 09 de Novembro de 2018.
Local | Centro de Artes da Universidade Federal de Pelotas | Auditório 2 | Rua Álvaro Chaves, 65, Pelotas.
Será aceito apenas o envio de trabalhos inéditos e completos de Graduados, pós-graduandos e pós-graduados. A correta formatação do arquivo é condição absoluta para que o artigo seja publicado. O formato, com seus espaçamentos e todas as instruções, está definido no Template disponibilizado, e deverá ser adotado, sob pena de não aceitação do artigo, mesmo tendo o conteúdo sido aprovado pelo Comitê Organizador.
Os trabalhos devem ter no máximo 03 (três) autores. A aceitação final da comunicação depende dos seguintes critérios: (i) estar inscrito ao recorte temáticos de seminário, (ii) recomendação dos parecerista e (iii) efetivação pelo(s) autores(es) dos ajustes propostos pela Comissão Organizadora do evento;
A inscrição do(a) comunicador(a) e a inserção do seu trabalho na programação final do Colóquio somente serão efetivadas após o pagamento pelo Pag seguro da inscrição de pelo menos um dos autores. Os demais autores deverão fazer sua inscrição como ouvintes do evento.
Os artigos aprovados pelo Comissão Organizadora serão publicados a partir de janeiro de 2019 na Revista Eletrônica Paisagens Híbridas, periódico vinculado ao Grupo de Pesquisas Paisagens Híbridas da Escola de Belas Artes/UFRJ.
PÓS-GRADUADOS | ESTUDANTES DE PÓS-GRADUAÇÃO | GRADUADOS 01.09.2018 A 31.10.2018 | R$ 100,00 Pagar inscrição |
Pesquisadores 10.06.2018 A 9.11.2018 | R$ 50,00 Pagar inscrição |
Pós-graduandos | Docentes da Educação Básica 10.06.2018 A 9.11.2018 | R$ 30,00 Pagar inscrição |
Graduandos 10.06.2018 A 9.11.2018 | R$ 15,00 Pagar inscrição |
Aldemar Norek. | Arquiteto Urbanista, Mestre em Arquitetura – Programa de Pós-graduação em Arquitetura - PROARQ-FAU/UFRJ.Doutorando pelo PROARQ-FAU/UFRJ, Arquiteto da Procuradoria Geral do Rio de Janeiro – Procuradoria Geral do Rio de Janeiro – PGE-RJ. | |
Diego Lemos Ribeiro | Museólogo, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Mestre em Ciência da Informação, Universidade Federal Fluminense e Doutor em Arqueologia pela Universidade de São Paulo (MAE-USP). Professor Adjunto, Universidade Federal de Pelotas vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural. | |
Elaine Maria Tonini Bastianello | Graduada em Educação Artística, Universidade da Região da Campanha. Historiadora, Universidade Federal de Santa Maria e Especialista em História e Cultura Brasileira Contemporânea, Universidade da Região da Campanha. Mestre em Memória Social e Patrimônio Cultural pela Universidade Federal de Pelotas. | |
Fábio Vergara Cerqueira | Historiador, Doutor em Antropologia Social, Professor Titular do Departamento de História da Universidade Federal de Pelotas. Bolsista Produtividade CNPq em Arqueologia. Pesquisador Visitante na Universidade de Heidelberg – Instituto de Arqueologia Clássica. | |
Fernando Ripe | Doutorando em Educação na Universidade Federal de Pelotas-UFPEL. Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS. Especialista em Educação Matemática pela Universidade Luterana do Brasil-ULBRA. Graduado em Licenciatura em Matemática pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS. Atualmente é professor de Matemática na Rede Municipal de Educação em Porto Alegre. Pesquisa a constituição do sujeito infantil através da cultura impressa portuguesa do século XVIII. | |
Gabriel Carvalho Kunrath | Historiador, UFPEL, Mestrando em História no PPGH/UFPEL, Membro do Grupo de Investigação do Movimento do Contestado. | |
Jenny González Muñoz | Licenciada em Artes pela Universidade Central da Venezuela – com ênfase em cerimônias indígenas. Doutora em Cultura e Arte para a América Latina e do Caribe, pela Universidade Pedagógica Experimental Libertador, Caracas, Mestra em Memória Social e Patrimônio Cultural, pela Universidade Federal de Pelotas, Rio Grande do Sul. Pós-doutoranda (PNPD-CAPES-UPF) em História, Universidade de Passo Fundo. | |
Luiza Fabiana Neitzke de Carvalho | Licenciada em Arte, UFRGS, Mestre e Doutora em Artes Visuais, com ênfase em História, Teoria e Crítica de Arte pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais do IA/UFRGS. Pós-Graduada em Patrimônio Cultural – Conservação de Artefatos pelo IAD/UFPel. Pesquisadora de Arte Funerária, investigadora de Cemitérios do Rio Grande do Sul. Professora Adjunta do Curso de Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis – ICH/UFPEL, atua na área de Materiais e Técnicas de Bens Culturais, Iconografia e Iconologia e História da Arte. | |
Márcia Janete Espig | Historiadora, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Mestre e Doutora em História UFRGS. Professora Associada da Universidade Federal de Pelotas e vinculada ao Programa de Pós-Graduação em História- PPGH/UFPEL. | |
Viviani Poyer | Historiadora, Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC, Mestre e Doutora em História Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, Prof. Adjunta do Curso de Pedagogia – Universidade do Estado de Santa Catarina/Capes. | |
Organizadores | |
Mauro Dillmann | Historiador - UFPEL, Doutor em História pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, UNISINOS/RS, Mestre em História, UNISINOS/RS. Professor Adjunto no Departamento de História da Universidade Federal de Pelotas – UFPEL, no Programa de Pós-Graduação em História da UFPEL e no Programa de Pós-Graduação em História – Mestrado Profissional – da Universidade Federal do Rio Grande – FURG. | |
Rubens de Andrade | Paisagista, Doutor em Planejamento Urbano e Regional, Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional – IPPUR/UFRJ, Mestre em Arquitetura – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura- PROARQ-FAU/UFRJ. Prof. Adjunto do Departamento de História e Teoria da Arte | EBA/UFRJ. Coordenador do Grupo de Pesquisas Paisagens Híbridas – GPPH-EBA/UFRJ |
Realização
Programa de Pós-Graduação em História – PPGH/Universidade Federal de Pelotas – UFPEL
Grupo de Pesquisas Paisagens Híbridas – GPPH-EBA/UFRJ
Coordenadores
Prof. Dr. Mauro Dillmann – PPGH|UFPEL
Prof. Dr. Rubens de Andrade – GPPH-EBA|UFRJ
Comissão Organizadora
Prof. Dr. Mauro Dillmann – PPGH|UFPEL
Prof. Dr. Fábio Vergara Cerqueira – PPGH|UFPEL
Prof. Dr. Fernando Ripe – FAE|UFPEL
Profa. Dra. Márcia Espig – PPGH|UFPEL
Prof. Dr. Rubens de Andrade – GPPH-EBA|UFRJ
Bolsistas
Bárbara Denise Xavier da Costa
Gabriel Carvalho Kunrath
Gilson Moura Henrique Júnior
Tamires Ferreira Soares
Thayná Vieira Marsico
Universidade Federal de Pelotas – UFPEL
Laboratório de Ensino de História | LAH– UFPEL
Escola de Belas Artes – EBA|UFRJ
Grupo de Pesquisa História do Paisagismo – GPHP-EBA|UFRJ
Professor Associado da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Docente da Escola de Belas Artes (História da Arte e Paisagismo) e do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – ProArq/UFRJ, Paisagista (EBA/UFRJ), Mestre em Arquitetura (ProArq –FAU/UFRJ) e Doutor em Planejamento Urbano e Regional pelo (Programa de Pós-Graduação de Planejamento Urbano e Regional-IPPUR/UFRJ). Líder no CNPq do Grupo de Pesquisas Paisagens Híbridas – GPPH-EBA/UFRJ.
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