A mesa-redonda, “Onde a morte habita?: a cidade sob o signo da tanatologia”, ocorreu na Escola de Belas Artes, no dia 13 de novembro de 2018, e reuniu pesquisadores do Grupo de Pesquisas Paisagens Híbridas para compartilharem trabalhos em andamento relacionados às Linhas de Pesquisas “Cemitérios: lugares de dor, luto e memórias paisagísticas” e “A cidade com artefato: arqueologia, paisagens e patrimônio”. A composição da mesa-redonda teve um caráter transdisciplinar ao alinhar falas de pesquisadores de áreas distintas como: a Arquitetura e Urbanismo, a Paisagem, a Arqueologia e Arte Contemporânea.
A série de palestras se iniciou com a Profa. Jackeline de Macedo. Sua abordagem teve como título “A morte como começo: arqueologia funerária”. O fio narrativo, apresentou um panorama das imbricações conceituais e práticas nos estudos da arqueologia histórica e préhistórica. Questões de ordem temporal voltados para o estudo da cultura material de sociedade de diferentes espaços formaram uma constante discursiva. Através de imagens de enterramentos, múmias e sítios funerários, a arqueóloga nos ofereceu elementos que auxiliam a dimensionar os lugares onde a morte habita. Sua fala considerou o quê o constructo teórico da arqueologia pode oferecer como potencialidade interpretativa, através de práticas milenares que, como destacou a arqueóloga, ainda se manifestam hoje no cotidiano de nossas paisagens fúnebres, em especial no contexto cemiterial.
O Prof. Guilherme Araújo de Figueiredo, docente da Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense, apresentou aspectos teóricos que norteiam sua pesquisa e os ganhos resultantes do trabalho in situ em cemitérios de Niterói a partir do Projeto de Iniciação Científica “Arquitetura Cemiterial no Município de Niterói”. Ao abordar o “Medo, angústia e redenção: requisitos programáticos da arquitetura da casa dos mortos”, o pesquisador demarcou os limites entre os usos do espaço divididos entre os vivos e os mortos. A leitura teórica sobre o medo e a morte, tendo com pano e fundo o ambiente cemiterial na trama urbana foi delineada na apresentação, assim como demandas dos usos do espaço cemiterial strictu sensu. As imagens trazidas e a questões apontadas revelaram como a casa dos mortos necessita de atenção especial por parte dos gestores e planejadores dos espaço que definem nossa última morada no plano terreno.
O pesquisador Aldones Nino, Filósofo e doutorando em História e Arte, na Universidade de Granada, fez um contraponto às primeiras abordagens trazidas na mesa-redonda ao lançar seu olhar para a morte fora dos limites do espaço cemiterial. Apesar da apresentação afastar-se do “território dos mortos” stricto sensu, a atmosfera de morbidez e violência pautada pelo aniquilamento da vida humana esteve presente em sua narrativa. A apresentação percorreu o campo epistemológico da arte contemporânea, oferecendo aos ouvintes um panorama conciso mas vigoroso de obras e artistas, especialmente do universo latino americano, que tem produzido trabalhos intimamente relacionados aos signos da tanatologia. “Imagens da morte: aniquilamento e violência na arte contemporânea” revelou parcelas do campo de estudos aos quais o pesquisador transita ao longo dos três últimos anos, campos esses onde arte, política, morte e teorias decoloniais, aproximam e alinham aspectos emergentes do cenário atual dos estudos da História da Arte.
Assimetrias da morte concluída: a presença ausente da finitude da vida na paisagem, última palestra da mesa-redonda, apresentada por Rubens de Andrade (Escola de Belas Artes – EBA/UFRJ), retomou o conceito do cemitério, indicando as assimetrias que vigoram na cidade contemporânea relativas e (re)interpretação dos espaços onde os mortos habitam. A partir de uma breve perspectiva histórica do espaço-cemitério, foram destacados elementos que definem as múltiplas relações da sociedade com a morte e o morrer sob o ponto de vista material, imaterial e simbólico.
A Arqueóloga Christiane Chagas Martins, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estado do Rio de Janeiro, mediou a mesa-redonda e potencializou o debate a partir de uma perspectiva analítica que não apenas apresentou convergências entre cada uma das palestras, mas também suscitou questões que solicitam olhares mais aproximados e desnaturalizados sobre o que cada pesquisador apresentou, abrindo assim instigantes perspectivas nos estudos da morte e mais especificamente no campo das suas representações na paisagem contemporânea.
A atividade foi muito bem recebida pelos presentes, na sua maioria estudantes de graduação, os quais puderam tomar contato com diferentes perspectivas teóricas e metodológicas da pesquisa de um tema que possui certas limitações no campo dos estudos da arte e da arquitetura, haja vista o escasso número de publicações sobre esta temática.
A atividade contou com apoio do Projeto de Iniciação Científica Arquitetura Cemiterial no Município de Niterói, coordenado pelo Prof. Dr. Guilherme Araújo de Figueiredo da Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense. Aos apoiadores, aos participantes e, especialmente, aos pesquisadores convidados, o nosso profundo agradecimento.
Rubens de Andrade
Novembro, 2018.
Professor Associado da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Docente da Escola de Belas Artes (História da Arte e Paisagismo) e do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – ProArq/UFRJ, Paisagista (EBA/UFRJ), Mestre em Arquitetura (ProArq –FAU/UFRJ) e Doutor em Planejamento Urbano e Regional pelo (Programa de Pós-Graduação de Planejamento Urbano e Regional-IPPUR/UFRJ). Líder no CNPq do Grupo de Pesquisas Paisagens Híbridas – GPPH-EBA/UFRJ.
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