Tópicos Arte-cidade – EBA/UFRJ


Prof. Rubens de Andrade | BAH-EBA/UFRJ
Thiago Rangel | Doutorando | PROARQ – FAU/UFRJ | Estágio docência
Quarta-feira: 14:00 – 17:00

O CURSO

Cidade-ciborgue e paisagens pós-orgânicas são os eixos conceituais definidos para refletir sobre as transformações sócio-espaciais, as convergências transculturais e a estética artístico-visual que se materializam e se manifestam em ambientes urbanos contemporâneos a partir dos saberes vinculados à cibercultura e às pesquisas sobre inteligência artificial.

A matriz temática do curso propõe uma reflexão histórica sobre a intelligentsia científica-tecnológica e discute aspectos relativos à hegemonia geopolítica euroamericana que teve como pano de fundo a Guerra Fria. Nessa fase, mais particularmente após os anos 1960, foram formuladas as bases empíricas e o arcabouço conceitual que disseminou as tecnologias da informação e consequentemente, a construção de uma Sociedade da informação.

O processamento de dados eletrônicos, assim como a invenção de instrumentos – supercomputadores, satélites, sistemas de comunicação/defesa e novas mídias – definiram o cenário do poder hipnótico da fantasia audiovisual sobre a imaginação pública, refletindo um sintoma ideológico de hegemonias proféticas da alta tecnologia (BARBROOK, 2009) que pregava, entre outras coisas, a dissolução de fronteiras geográficas, o compartilhamento e a popularização da informação. Em contrapartida, junto a esses ganhos, a tecnologia da informação impôs ao cidadão o controle social, a vigilância dos IP (Internet Protocol), a concentração de poder político-financeiro das nações mais ricas e a criação de estratégias geopolíticas pautadas por disputas territoriais e jogos de guerra.

Ante a esse processo, as estruturas científico-militar-industrial científico-cultural (DAVIS, 1990) defendiam entre outras coisas a supremacia das máquinas, profetizavam a iminente chegada da utopia digital e acreditavam na criação da inteligência não-biológica (BARBROOK, 2009; CHAMAYOU, 2015). A fusão desses ideários seriam em parte o fundamento para o “futuro e prosperidade da humanidade”.

A primazia do pensar tecnológico ao longo das últimas décadas ampliou associações entre natural e artificial, sofisticou processos simbióticos entre seres animados e inanimados (ciborgues), proporcionou a criação de inteligência artificial, arquitetou ambientes digitais e produziu ambiências cibernéticas; além disso, conectou diferentes grupos culturais, assegurou conquistas na medicina, gerou novos hábitos sociais, popularizou laptopsinternet, smarthponesdrones e potencializou o surgimento de ideias que ultrapassaram tradicionais interpretações sobre a vida humana, a partir desse momento fundadas por teorias que tratam a ideia do pós-humano.

Com o passar do tempo, considerando-se a audiência da ficção científica e os ganhos ampliados da revolução digital, a sociedade constatou que nem todas as promessas foram cumpridas. Independente de tais aspectos, as transformações no modo de pensar da sociedade se atualizaram e reformularam a consciência do cidadão que vive no seu dia a dia os reflexos das tecnologias da informação nos caixas eletrônicos, no download de programas e arquivos na web, nas telas de led das vias urbanas, no controle de aeronaves em aeroportos, na troca de mensagens via WhatsApp.

Os ganhos tecnológicos da era digital e os novos paradigmas cibernéticos seguem disponibilizando diferentes modalidades e múltiplas formulações para pensar a simbiose entre o humano e a máquina, o que em si, segue aprofundando os fundamentos das pesquisas e os ideários sobre o pós-humano. Grosso modo, suas bases prometem num futuro próximo, o alcance do equilíbrio do organismo físico, perfeição e sobrevida a qual o ser humano por hora ainda não possui.

De todo modo, ao desvelar os critérios atrelados às ideias da cidade-ciborguiana e atributos conceituais e teóricos subordinados aos estudos da paisagem, a disciplina pretende refletir sobre a produção do espaço urbano contemporâneo, em particular, de cidades atreladas à sistemas de inteligência artificial, dependentes da onipresença tecnológica que pautam hábitos sociais (upgradesdownloads etc.) e são atravessadas pelos ideários da cibercultura. Tais aspectos não apenas estimulam, mas também, influenciam o projeto e a dinâmica das paisagens pós-orgânicas.

A natureza do corpo físico em contraponto ao ideário do corpo virtual, bem como os lugares tangíveis e intangíveis em que ambos se manifestam são os elementos essências para discutir quais as característica e potência das paisagens virtualizadas e mais, como as mesmas estabelecem territórios híbridos. Neste caso os videogames se apresentam como a pauta que atomiza a discussão e   também, apontam questões crucias de um debate que será construído à luz de conceitos relacionados à heterotopia, virtualidade, ciberespaços, gamificação e jogabilidade. Serão ainda considerados, aspectos alinhados a esfera sinestésica dos jogos digitais, seus significados, e impactos socioculturais produzidos no   cotidiano da paisagem.

De todas as relações e atravessamentos indicados, nasce também a disposição para interpretar como o campo das artes visuais em seus múltiplos vetores, transitam na cidade e manifestam a narrativa de artistas e obras de arte perpassadas pelos campos de estudos da cibercultura e da inteligência artificial, lidas aqui, através das perspectivas históricas e transdisciplinar.

Nesse cotidiano digital, a sociedade lança olhares críticos para o processo de aprimoramento tecnológico na vida urbana. Logo, nada mais natural que o surgimento de questionamentos sobre a validade, limites e ganhos de se viver em uma cidade sobrecarregada de dispositivos ciborgues e permeada por inteligência artificial que, ao mesmo tempo que facilita hábitos rotineiros ao dissipar barreiras informacionais, também, vigia, cerceia e vicia o cidadão.

Programa

Sessão de AulaDiaRecorte Temáticos
24NOVApresentação da disciplina, aproximações sobre o tema e objeto do curso
01DEZContexto e aproximações sobre a cidade-ciborgue
HAN, Byung-Chul. Hiperculturalidade: cultura e globalização. São Paulo: Vozes, 2019. [Fusion food (p. 33-37); Cultura Híbrida (p. 39-50) Hiperlog (p. 127-130)].

LEMOS, André. Cidade-ciborgue: a cidade na cibercultura In: Galáxia, No. 8, outubro 2004.
https://revistas.pucsp.br/galaxia/issue/view/116/showToc

08DEZCidades, ciborgues e paisagens pós-orgânicas: heterotopias e os lugares não-tangíveis
Prof. Thiago Rangel
FLUSSER, Vilém. O mundo codificado: por uma filosofia do design e da comunicação. São Paulo: Cosac-Naify, 2013. [A fábrica, p. 33-44; A alavanca contra-ataca, p. 45-50; A não coisa [1], p. 52-58].

SANTAELLA, Lucia. Culturas e artes do pós-humano: da cultura das mídias à cibercultura. [Uma visão heterotópica das mídias digitais, p. 61-76].

TEXTO COMPLEMENTAR
FOUCAULT, M. Of Other Spaces, Heterotopias, 1967. https://foucault.info/documents/heterotopia/foucault.heteroTopia.en
15DEZSobre futuros imaginários: jogos de guerra, computadores e novas plataformas tecnológicas
BARBROOK, Richard. Futuros imaginários: das máquinas pensantes à aldeia global. São Paulo: Petrópolis, 2009. [O futuro é o que sempre foi, p. 31-63; A computação da guerra fria, p. 65-77; Supremacia cibernética, p. 91-105].

BAUMAN, Zygmunt; LEONCINI, Thomas. Nascidos em tempos líquidos. Rio de Janeiro: Zahar, 2017. [Buscar abrigo na caixa de Pandora, medo e incerteza na vida urbana. p. 52-73].

Texto Complementar
CHAMAYOU, Grégoire. Teoria do Drone. São Paulo: Cosac Naify, 2015. [Drones e camisacases, p. 97-102; Psicopatologias do drone, p. 120-128].
22DEZPaisagens do amanhã: supercomputadores, videogames e espaços possíveis para produção de sentidos
Prof. Thiago Rangel
LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. São Paulo: Editora 34, 2016. [A rede digital, p. 102-114; O tempo real, p.115-131].

RAMOS, Cremilson Oliveira; SÁ, Jussara Bitencourt de, A narrativa lúdica dos videogames: espaços possíveis de produção de sentidos. In: Darandina Revisteletrônica, V. 5, nº 2. 2012.


TEXTO COMPLEMENTAR
DAVIS, Mike. Cidade de quartzo: escavando o futuro em Los Angeles. São Paulo: Página aberta, 1990. [Fortaleza LA, p. 203-232]
05JANTrânsito de dados, deslocamentos no cyberspaço: paisagens virtuais, inter-tele-comunicação e o imaginário da vida urbana
FELICE, Mássimo di. Paisagens pós-urbanas. São Paulo: Annablume: 2009. [Trânsitos eletrônicos, p. 167-183].

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 2001. [O ciberespaço, a cidade e a democracia eletrônica, p. 185-196; O tempo real, p. 115-131].
12DEZVirtualidade – (in)permanências na arquitetura de paisagens pós-orgânicas
Prof. Thiago Rangel
LÉVY, P. O que é Virtual? São Paulo: Editora 34, 1996.[o que é virtualização, p. 15-24; A virtualização da inteligência e a constituição do sujeito, p. 97-118]

PIMENTA, Francisco José Paoliello, O conceito de virtualização de Pierre Lévy e sua Aplicação em Hipermídia. In: Revista Lumina, Facom/UFJF - v.4, n.1, p.85-96, jan/jun 2001.
https://www.ufjf.br/facom/files/2013/03/R6-Francisco.pdf

TEXTO COMPLEMENTAR
HAN, Byung-Chul. No enxame: perspectiva digital. São Paulo: Vozes, 2018. [Desmediatização (p. 35-42); Fuga da imagem (p. 53-58).
19JANPós-Humano e multiculturalismo – dissolução das monoidentidades e transculturalidade
Convidada Arquiteta Laura Curvão
SANTAELLA, Lucia. Culturas e artes do pós-humano: da cultura das mídias à cibercultura. [O corpo biocibernético e o advento do pós-humano, p. 151-180].

SIBILA, Paula, o corpo obsoleto e as tiranias do upgrade In: Revista Verve, 6: 199-226, 2004.
http://revistas.pucsp.br/index.php/verve/article/viewFile/5011/3553
26JANArte, corpo-ciborgue e cibercultura I: Mídias híbridas, hipermídia e ciberespaço
Prof. Thiago Rangel
HAN, Byung-Chul. Hiperculturalidade: cultura e globalização. São Paulo: Vozes, 2019. [Inter, multi e transculturalidade (p. 97-106)].

Discussão Complementar
SANTAELLA, Maria Lucia. Palestra PERCURSO.S, PROARQ, 2020.
https://www.youtube.com/watch?v=hPZt7luROpc&t=272s
02FEVArte, corpo-ciborgue e cibercultura II: dissolução das monoidentidades e transculturalidade
Palestra Mel Martins e Jordi
Cardoso, Jean, O ciborgue entre a bio-arte e a arte disturbatória In: Revista Ilha do Desterro, http://www.scielo.br/pdf/ides/v70n2/2175-8026-ides-70-02-00029.pdf

Haraway, Donna J. Manifesto ciborgue Ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX In: HARAWAY, Donna; KUNZRU, Hari Kunzru. Antropologia do ciborgue: As vertigens do pós-humano. São Paulo: Autêntica, 2000. [p. 33-58].
09FEVArte, corpo-ciborgue e cibercultura III: desagregação da tradição artística e disseminação de novas conexões digitais
SANTAELLA, Lucia. Culturas e artes do pós-humano: da cultura das mídias à cibercultura. [As artes do corpo biocibernético, p. 270-301].

NUNES, Mônica. Memória, consumo e memes de afeto nas cenas cosplay e furry In: Revista Contracampo, Niterói, V. 35, no. 1, p. 142-162, abr./jul., 2016.

Texto Complementar
CAMINHAS, Lorena Rubia Pereira. A midiatização dos mercados do sexo e a configuração da experiência erótica mediada In: Revista Galaxia, (São Paulo, online), ISSN 1982-2553, n. 37, jan-abr., 2018, p. 162-174 Acesso: http://revistas.pucsp.br/galaxia/article/view/32548/25257

Referências


BARBROOK, Richard. Futuros imaginários: das máquinas pensantes à aldeia global.  São Paulo:  Petrópolis, 2009.
BAUMAN, Zygmunt; LEONCINI, Thomas.  Nascidos em tempos líquidos.  Rio de Janeiro:  Zahar, 2017.
CAMINHAS, Lorena Rubia Pereira A midiatização dos mercados do sexo e a configuração da experiência erótica mediada InRevista Galaxia, (São Paulo, online), ISSN 1982-2553, n. 37, jan-abr., 2018, p. 162-174 Acesso: http://revistas.pucsp.br/galaxia/article/view/32548/25257
CANCLINE, Néstor Garcia. Consumidores e cidadãos: conflitos culturais e globalização. Rio de Janeiro: UFRJ, 1999. [Narrar o multiculturalismo, p. 143-160; Suburbios pós-nacionais, p. 161-177].
CARDOSO, Jean, O ciborgue entre a bio-arte e a arte disturbatória InIlha do Desterrohttp://www.scielo.br/pdf/ides/v70n2/2175-8026-ides-70-02-00029.pdf
CARDOSO, Isabel Lopes (ORG.), Paisagem patrimônio: aproximações pluridisciplinares. Porto: Dafne, 2013.
CHAMAYOU, Grégoire. Teoria do Drone. São Paulo: Cosac Naify, 2015.
COLOSSO, Paolo. KOOLHAAS, Rem. Nas metrópoles delirantes – entre a bigness e o big business. São Paulo: Annablume. 2017.
DAVIS, Mike.  Cidade de quartzo: escavando o futuro em Los Angeles.  São Paulo: Página aberta, 1990.  
FELICE, Mássimo di. Paisagens pós-urbanas. São Paulo: Annablume: 2009.
FLUSSER, Vilém. O mundo codificado: por uma filosofia do design e da comunicação.  São Paulo: Cosac-Naify, 2013.
GLASSER, Edward. O triunfo da cidade. São Paulo: BEí, 2016
GUMBRECHT, Hans Ultich. Nosso amplo presente – o tempo e a cultura contemporânea. São Paulo: Unesp, 2015.
HARAWAY, Donna; KUNZRU, Hari Kunzru. Antropologia do ciborgue: As vertigens do pós-humano.São Paulo: Autêntica, 2000.
LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos. São Paulo: Editora 34. 2013.
LEMOS, André. Cidade-ciborgue: a cidade na cibercultura InGaláxia, n. 8, outubro 2004. https://revistas.pucsp.br/galaxia/issue/view/116/showToc.
LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. São Paulo: Editora 34, 2016.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 2001.
NUNES, Mônica. Memória, consumo e memes de afeto nas cenas cosplay furry InRevista Contracampo, Niterói, v. 35, n. 01, p. 142-162, abr./jul., 2016.
SANTAELLA, Lucia. Culturas e artes do pós-humano:  da cultura das mídias à cibercultura. São Paulo: Paulos, 2003.

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