Apresentação
De que modo é possível falar sobre os limites da inteligência artificial, se consideramos que esta é mais suscetível a mutações do que a inteligência humana – cujos mecanismos, por sua vez, ainda estamos longe de compreender inteiramente? ou, em outras palavras, como podemos falar sobre o limite de algo que é praticamente ilimitado? (Hui, 2016, p. 109).
O conceito de Inteligência Artificial surge do desafio humano de tentar entender a maneira como se dá o pensamento, com o objetivo de reproduzir um ser pensante, com base no raciocínio lógico, funcional e racional. Talvez o registro mais antigo que temos próximo de uma Inteligência Artificial foi quando Aristóteles questionou se um objeto poderia executar sua função sozinho, imaginando uma vassoura que limpasse sozinha uma sala.
Na filosofia grega de Aristóteles, “τέχνη” (téchne) era o termo usado que designava um espectro de significados relacionados ao conhecimento prático necessário para realizar determinadas tarefas ou criar objetos, associada também a capacidade de transformar os recursos naturais disponíveis em ferramentas, artefatos ou obras de arte, como no caso das ferramentas de pontas de lança e facas de pedra criadas pelos caçadores-coletores.
No século XVIII, os ideais Iluministas de racionalidade e aplicação prática do conhecimento científico ajudaram a moldar o contexto no qual as inovações tecnológicas foram recebidas, desenvolvidas e aplicadas, transformando o desenvolvimento da técnica no ideal de progresso da sociedade. Para além da instrumentalização, a conjunção tecnologia e iluminismo, deu espaço para uma homogeneização do conceito de técnica, que limita e obscurece nossa relação com o cosmos em suas infinitas possibilidades.
Para Heidegger, a técnica não é apenas um conjunto de ferramentas ou métodos utilizados para manipular o ambiente; é uma forma de entendimento que determina como nos relacionamos com tudo ao nosso redor. Sendo assim, artefatos neolíticos, linguagem, comunicação em rede ou mesmo a IA, são processos estabelecidos pela agência humana, indissociáveis de nossa natureza, mas percebidos e praticados de maneira heterogênea entre diferentes culturas, meios e tempos, sob o rótulo generalizante de “tecnologia”.
A mostra Alterações Visuais – Trans(forma)cidade, apresenta a possibilidade de pensar poéticas através de imagens, geradas por IA, para subverter a programação generativa dos softwares por meio da linguagem codificada. “A palavra é instrumentalizada através de prompts, como uma presença fantasmagórica decodificada entre o banco de dados e a intencionalidade de quem dá o comando. Através desses dados, podemos achar pistas de códigos que estão mergulhados em significados, dos quais as turvas bordas entre o real e o irreal são desafiadas no rejunte da realidade” (Gamaliel, 2024).
As obras expostas são resultado da disciplina Cidade-ciborgue: paisagens pós-orgânicas, mediada no curso de História da Arte, EBA-UFRJ, e reúne a produção imagética de seis artistas que cursaram a disciplina, além da obra Crise e observação do artista convidado Victor Mattina. Aqui, a IA não apenas repete padrões estabelecidos, mas atua como co-criadora da paisagem. Qual futuro está sendo imaginado para nossa agência humana e que tipo de inteligência está a seu serviço ?
Prefiro ter na IA um assistente desajustado a quem posso dar cada vez mais chances de falhar, porque quando trabalhamos juntos é como se minha imaginação ganhasse uma órtese que a obrigasse a considerar insistir na aparência das coisas como uma ilusão assumida e abertura para algo ao mesmo tempo incompleto e inconcebível. Uma espécie de “miragem ciborgue” que por vezes carrega semelhanças em tom e conteúdo à visão mística, alienada de promessas de libertação. É na superfície paradoxal de algo produzido pelo jogo de correlações entre a máquina matemática e a nossa linguagem que uma imagem pode ser ao mesmo tempo mutante e inexorável (Mattina, 2023).
Melanie Martins
Artistas
Anna Luísa Nobre
Gabe Gamaliel
Laura Monteiro
Luiz Phyllipe
Mateus de Paiva
Raquel Saito
Artista Convidado:Victor Mattina
CRÉDITOS
CRÉDITOS
Coordenação e Curadoria
Melanie Martins
Apoio técnico
Gabe Gamaliel
Dora Romantini
Rubens de Andrade
Textos
Melanie Martins
Gabe Gamaliel
Victor Mattina
Montagem
Dora Romantini
Realização
Grupo de Pesquisa Paisagens Híbridas
Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ
Escola de Belas Artes
Programa de Pós-Graduação em Arquitetura
Apoio
Capes
Professor Associado da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Docente da Escola de Belas Artes (História da Arte e Paisagismo) e do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – ProArq/UFRJ, Paisagista (EBA/UFRJ), Mestre em Arquitetura (ProArq –FAU/UFRJ) e Doutor em Planejamento Urbano e Regional pelo (Programa de Pós-Graduação de Planejamento Urbano e Regional-IPPUR/UFRJ). Líder no CNPq do Grupo de Pesquisas Paisagens Híbridas – GPPH-EBA/UFRJ.
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