APRESENTAÇÃO
Entre agosto e setembro de 2020, em meio a pandemia do coronavírus, crianças e adolescentes da rede básica do ensino público do município de Lebon Régis/SC produziram cerca de 300 desenhos com o tema Guerra do Contestado. Eles foram feitos como demanda de um concurso virtual promovido pela Associação Cultural Coração do Contestado, com sede no mesmo município. A ação envolveu dezenas de escolas e contou com o apoio da Secretaria de Educação da cidade.
A Guerra do Contestado (1912-1916) é o registro histórico de uma rebelião de viés popular ocorrida no planalto catarinense no início do século XX. Com a denominação de Santa Irmandade, foram criadas as cidades santas nelas a organização de uma sociedade igualitária composta majoritariamente por homens e mulheres do campo. No interior dessas cidades regia uma regra de divisão comunitária de terras e bens que tinha como lema o dito popular: “quem tem mói, quem não tem, mói também, e assim todos ficam iguais”.
A força primordial desse movimento rebelde estava alicerçada na crença nos chamados monges João Maria e José Maria. Eles eram curandeiros, eremitas, benzedores e conselheiros populares. Durante a Guerra do Contestado eles já estavam mortos, mas seus conselhos, suas práticas de cura e seus ensinamentos foram reelaborados social e culturalmente e serviram de alicerce para a luta e a força dos que viviam nas cidades santas.
Sob a inspiração e a liderança popular desses homens santificados é que a construção do mundo igualitário foi firmada em oposição ao poderio dos coronéis locais, dos militares e do capital estrangeiro, em especial o representado pela empresa que construiu a estrada de ferro que ligava São Paulo ao Rio Grande do Sul, bem como a madeireira internacional por ela financiada.
Esse projeto foi violentamente interrompido em nome do progresso, da legalidade e da ordem. Para isso foi mobilizado grande número de homens, incluindo militares e jagunços, todos a pedido, dos governadores de Santa Catarina e do Paraná. A Repressão a rebeliões e insurgências populares, sabemos, não se restringem a episódios ocorridos no passado. E é essa denúncia que aparece como uma das mais potentes nos desenhos incluídos nessa exposição.
As expressões imaginárias presentes em cada traço, forma, cor ou texturas encontradas nos desenhos infanto-juvenis sobre a Guerra do Contestado fazem mais que denunciar a persistência da violência contra os homens e mulheres rebeldes. Elas buscam interromper as narrativas de louvor aos vencedores para nos contar a história dos marginalizados. Elas tentam interromper o fim do mundo de terror e violência que mata trabalhadores, destrói florestas, confiscam os sonhos e ameaçam o futuro.
As crianças e adolescentes de Lebon Régis, por meio dessa cosmopoética, que é ao mesmo tempo arte e política, convida-nos a pensar sobre a história que atravessa a vida, os tempos e os espaços das rebeliões populares rurais do Brasil.
O PROJETO DE EXTENSÃO
A ação de extensão Estação Contestado surgiu em 2021 como trabalho de história pública feito em parceria com a comunidade escolar localizada na região que foi palco da Guerra do Contestado. Como exposição, essa atividade reúne e consolida algumas parcerias de trabalho, de afeito e de laços políticos: primeiro do projeto Estação Contestado com a Associação Cultural Coração do Contestado, de Lebon Régis; segundo, do Centro de Ciências Sociais e da Educação (FAED) da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC); com o Grupo de pesquisa Paisagens Híbridas da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro – EBA/UFRJ; terceiro, e não menos importante, da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (FAPESC) com toda a comunidade, acadêmica e não acadêmica, pois foi graças ao apoio financeiro dessa instituição, consolidado pelo Projeto de Apoio à Pesquisa (PAP/UDESC/FAPESC), que conseguimos materializar essas parcerias na exposição virtual Cosmopoética do fim do mundo: a Guerra do Contestado nos desenhos infanto-juvenis.
GALERIA PAISAGENS HÍBRIDAS
A GALERIA PAISAGENS HÍBRIDAS é um ambiente virtual que objetiva estabelecer uma plataforma digital para expor projetos curatoriais no campo das Artes Visuais, como também, para abrir um espaço institucional para divulgação da produção audiovisual ligada à proposta de pesquisa e extensão universitária.
Na sua essência, as exposições da Galeria PH estão abertas para projetos concebidos pelo corpo social do grupo de pesquisas Paisagens Híbridas, assim como para artistas e parceiros de outras instituições do Brasil e exterior que dialoguem com o campo de trabalho que o grupo segue estabelecendo aos longo dos anos.
A Galeria PH pretende, também, incentivar exposições de artes, tendo em vista incentivar o amplo exercício visual da sociedade. Dessa forma propōe ser um espaço para a divulgação de projetos curatoriais que confluem com as pautas temáticas do grupo de pesquisa Paisagens Híbridas.
No âmbito dos projetos de pesquisa e extensão, o foco da Galeria PH é divulgar os diversos processos e dimensões vivenciados por seus membros. Nesse sentido, serão utilizados instrumentos capazes de alçar o público ao universo particular dos projetos curatoriais que serão expostos em nossa Galeria.
EQUIPE
O PROJETO | |
Rogério Rosa | CONCEITO E PROJETO Meu nome é Rogério. Sei que todo mundo fala de suas habilidades, mas primeiro quero contar para vocês o que não sei fazer. Quem sabe alguém se identifica comigo. Não jogo futebol, não aprendi a jogar videogames, não sei tocar instrumentos musicais, não gosto de escuro e não assisto filmes de terror. Desenhar também não sei. Sou daqueles que ficam enjoados em roda gigante. Mas gosto de subir em árvores, criar animais, plantar, cozinhas e fazer esportes em que meu corpo se movimenta na água. Para mim não tem coisa mais linda que o mar com sua imensidão líquida e iluminada. Meu sonho é viver numa ilha, com uma biblioteca, receber meus amigos e amigas e cozinhar somente aquilo que eu posso plantar, colher, pescar e cuidar. Acredito em santos, monges e deuses. Amo literatura, cinema e dança. E na lista das coisas que gosto não poderia faltar a história da Guerra do Contestado. Para mim é um dos episódios mais fantásticos da história do Brasil. |
|
Rubens de Andrade | CONSULTORIA E EXPOSIÇÃO Pensar a paisagem e seus domínios tem sido um exercício que há mais de 30 anos ocupa meu tempo, molda meu olhar, preenche espaços onde habito, move meu pensar em caminhos distintos, mas necessariamente, nunca em uma única direção. Capricorniano voltado ao trabalho, aprecio antagonismos. A contradição me aguça, o hibridismo me seduz e a relação arte/paisagem abre possibilidades de arquitetar plurais possibilidade do pensar o corpo e o ambiente. Articulo de ideias entre pessoas interessadas em ir um pouco além, em especial, aquelas que arriscam-se à beira do abismo e estão propensas a construir de pontes de conhecimento, empatia e afetos. Na (des)ordem das coisas, na prática diária do devir, achei meios de atravessar fronteiras e messe exercício, encontrei um valioso abrigo no projeto Cosmopoéticas do fim do mundo. Esse lugar tem sido oportuno para experiementar outras formas de existências e com isso, (re)pensar a historicidade presente na visualidade dos desenhos infanto-juvenil dos estudantes de Lebon Regis. |
|
A CURADORIA | |
Dora Romantini Artista e artesã. Paulista, graduada em Gravura pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Vive em Sumaré, São Paulo e exercita em seu cotidiano a fuga da dualidade social-programada. Utiliza seu tempo para pensar sobre a identidade, o sublime e o absurdo. Faz parceiras de trabalhos com grupo de pesquisas Paisagens Hibridas e tem se dedicando em seus projetos ao trabalho de curadoria de exposições. |
|
Luiza Luael Me chamo Luiza Luael, sou artista, designer, produtora cultural e pesquisadora. Busco, através da criação de espaços reais e virtuais, de trabalhos em video, gravura e escultura, explorar os campos de relação entre arte, tecnologia, consciência e sustentabilidade. Observando as diferentes formas de experimentar as percepções, entendo que o entrelace das realidades sutis e materiais guarda padrões que serão guias para a construção e reconstrução, no ciclo de Samsara. A música e o vídeo são partes imprescindíveis da minha vivência, onde gosto de navegar por tudo que há de experimental, misturando o eletrônico e o orgânico, somado às memórias de minha infância no subúrbio de Belo Horizonte, que me traziam referências de música gospel, pagode e pop. |
|
BOLSISTAS | |
André Vinício Bialeski Vieira Olá, me chamo André Vinicio e sou estudante de Licenciatura em História na Universidade do Estado de Santa Catarina. A quem interessar sou pisciano. Sou apaixonado por música, porém sou um desastre como cantor. Meu time de coração é o Criciúma Esporte Clube, mas meu time de paixão é o Sport Club Internacional. No meu tempo livre me dedico a dormir, ler literatura e ver séries e filmes, acompanhado de um bom café e chocolate. Meus livros favoritos são a coleção de Harry Potter, Memórias Póstuma de Brás Cubas e O auto da Compadecida. Minhas séries favoritas se resumem a Friends e O Mentalista. Entre os filmes que mais gosto estão O Sexto Sentido, Vingadores: Ultimato e Auto da Compadecida. Desde muito novo sou apaixonado por história. Estou no coletivo de pesquisa, extensão e afetos, chamado Estação Contestado desde 2020 e iniciando minhas pesquisas sobre as práticas de cura populares na Guerra do Contestado. |
|
Caio Baracuhy Correa Amo história, universo geek e sou aprendiz de historiador. Também trabalho com edição de vídeos. Jogo league of legends e sou um amante dos desenhos do outro lado do mundo, como Inuyasha e Full Metal Alchmist Brotherhood. No futebol, sou Avaiano de coração e não troco meu time por nada. Como um bom taurino amo comer e dormir. Meu fascínio com história começou quando criança com a curiosidade do tempo anterior ao meu nascimento. Foi dentro da universidade que encontrei o que queria fazer: contador de histórias, também conhecido como historiador. Foi também nesse momento que conheci o conflito do Contestado. Ao estudar sobre o conflito fiquei impressionado de ter acontecido algo tão grande dentro do meu Estado e nunca ter tido qualquer conhecimento sobre o assunto. |
|
Diovanna Trein Oie :)) meu nome é Diovanna, tenho 20 anos e sou estudante de História na Universidade. Além de aluna sou: artista, amo gatos e tenho 5 deles, gosto muito de ler ficção nas horas vagas, e confesso amar desenhos animados antigos. Também sou bastante tímida. O nome de um dos meus gatos é Cosme, e também tem o Baguera. Gosto de muitos tipos de música, incluindo MPB, Reggae, “uns rock”, trap, alternativa, blues, rap, samba e por aí vai... Minha comida preferida é sopa (tipo todas, sério), gosto de tocar uma viola quando convém. Meu gato mais esquisito se chama Frederico. Curto ouvir uns discos de vinil em tardes desocupadas. Estou bem animada pra tirar a carteira de motorista pra dar “uns pião” por ae (coisa que também adoro fazer), e com certeza ir visitar alguns pontos históricos do Contestado aqui pela região de Santa Catarina e Paraná, para entender melhor esse conflito que tanto chama minha atenção e me intriga nas pesquisas. Ufa! Você leu até, então bom... Ravena e Akira são os meus outros 2 gatos lindos e cheirosos. |
|
Hélio Muxfeld Neto Oi! Eu sou o Hélio Neto, tenho 21 anos, sou graduando em Licenciatura na UDESC. Sou natural de Curitibanos, uma cidade no interior de Santa Catarina que foi palco da Guerra do Contestado. O que posso falar sobre mim é que sou apaixonado por música, e tento tocar qualquer tipo de instrumento, além de estar ouvindo música quase sempre. Também sou apaixonado por animais, mas tenho um afeto especial por gatos. Também sou Gremista com muito orgulho! Gosto de acompanhar e sofrer pelo meu time. O projeto Estação Contestado me cativa a cada dia, porque além das pesquisas que desenvolvemos, nossa equipe é a melhor de todas! |
|
João Ioshio Masukawa de Souza Eu me chamo João Ioshio, tenho 20 anos, nasci e cresci em Florianópolis, faço licenciatura em história na UDESC. Entrei na Universidade no ano de 2021. Tenho preferência (na verdade é paixão mesmo) por história antiga e medieval, mas também do período das Guerras Mundiais. Gosto muito da história do Brasil e principalmente de estudar sobre os conflitos históricos como a Guerra do Paraguai, a Revolução Federalista, a Guerra de Canudos e, agora, a Guerra do Contestado. |
|
João Vitor Soares Leal Sou João Vítor Soares Leal, chamado por todos de Vítor. Nasci e cresci em Pelotas, no Rio Grande do Sul, onde conclui meu fundamental e por essa razão fui para o ensino médio. Atualmente sou estudante do curso de história da UDESC e faço parte da família Estação Contestado. O conflito tem me cativado e com a visita aos remanescentes da guerra tenho descoberto pessoas com memórias de luta e de resistência que têm contribuído para minha formação política e social. |
|
Leandro Antônio Batista Eae gente, sou o Leandro Antônio Batista, tenho 20 anos, sou do Paraná, mas especificamente de Guaratuba, onde vivi até meus 19 anos. Em 2020 entrei para o curso de Licenciatura História na UDESC, e em 2022 me mudei de vez para cidade de Florianópolis. Faço parte do “Estação Contestado”, onde venho desde então estudando, pesquisando e produzindo conteúdo sobre a história desse conflito intrigante. Sou fascinado por música, adoro descobrir artistas, bandas, estilos musicais novos e também me aventuro a tocar alguns instrumentos, principalmente bateria. Não sou a melhor pessoa na cozinha, mas gosto de tentar cozinhar algumas coisas diferentes (faço uma torta de maçã muito boa). Gosto muito de viajar e tenho uma longa lista de lugares que quero conhecer. Coleciono panfletos aleatórios de lugares que eu já fui. |
|
Monike França Ibanhes Me chamo Monike. Nasci em Bela Vista (MS), mas atualmente moro em Palhoça (SC). Desde muito pequena sou conhecida como a menina “avoada”, aquela que vive no mundo da lua. Esse meu jeitinho especial foi se intensificando na adolescência. Muito disso por influência de filmes, jogos e desenhos animados que, por sinal, são uma paixão na minha vida. Meu interesse por história se iniciou no ensino médio, mas eu tinha muita expectativa e medo do que poderia descobrir do mundo, foi nessa mesma época que a Disney lançou a animação Moana e, de cara, me apaixonei pela história. Esse foi o filme que me deu aquele empurrãozinho para que eu pudesse ter a coragem de “desbravar” terras antes jamais conhecidas por mim e decidir vir, na fé e na coragem, para um outro estado cursar minha faculdade de história. |
AGRADECIMENTOS
A Coordenação do Projeto agradece a toda comunidade remanescente do Contestado pelo legado ancestral que é mantido e compartilhado na atualidade.
Aos amigos e amigas do Grupo de Investigação sobre o Movimento do Contestado, em especial a Paulo Pinheiro Machado, Márcia Janete Espig, Delmir Valentini e Alexandre Assis Tomporoski. A Carlos Nedir, de Lebon Régis, que tanto confiou nesse projeto que me deu acesso e aval irrestritos para trabalhar com os desenhos das crianças.
Às crianças e adolescentes que fizeram essas narrativas que mudaram minha rota de pesquisa desde o momento que tive a sorte de cruzar com elas.
A Mateus N. Siabeni, um dos artistas, que foi o primeiro a me cativar com seu desenho complexo e sensível.
Às escolas e professores(as) de Lebon Régis pela potência do trabalho político e social que realizam no município.
Às amigas do Grupo de Pesquisa Políticas de Memória e Narrativas Históricas (PPGH/UDESC), Viviane Borges e Janice Gonçalves.
À parceira de trabalho e amiga Mariana Joffily. À Dora e Luísa, que abraçaram a proposta e tiveram a paciência e o cuidado em me ouvir sobre os desenhos e a paixão pela história da Guerra do Contestado.
À toda equipe Estação do Contestado que cresce e se fortalece a cada dia (Vocês são os/as melhores do planeta).
Agradecimento mais que especial ao Rubens de Andrade que foi o primeiro a confiar nesse projeto, fazer todos os contatos e não mediu esforços para que tudo acontecesse. Sem ele, a iniciativa teria sido muito mais modesta.
À força viva e ancestral de São João Maria. Que vivifica e renova o sonho do mundo igualitário.
CRÉDITOS
Realização: Universidade do Estado de Santa Catariana | UDESC
Organização: Programa de Pós-Graduação em História | PPGH-UDESC e Grupo de Pesquisas Paisagens Híbridas | GPHP-EBA/UFRJ
Coordenação: Prof. Dr. Rogério Rosa | Prof. Dr. Rubens de Andrade
Curadoria: Dora Romantine | Luiza Luael
Bolsistas: André Vinicio | Caio Baracuhy | Diovanna Trein | João Vítor | João Ioshio | Leandro Batista | Hélio Neto | Monike Ibanhes
Patrocínio: Fundação de Amparo a Pesquisa de Santa Catarina
Parceiros: Associação Cultural Coração do Contestado | Laboratório de Imagem e Som
Professor Associado da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Docente da Escola de Belas Artes (História da Arte e Paisagismo) e do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – ProArq/UFRJ, Paisagista (EBA/UFRJ), Mestre em Arquitetura (ProArq –FAU/UFRJ) e Doutor em Planejamento Urbano e Regional pelo (Programa de Pós-Graduação de Planejamento Urbano e Regional-IPPUR/UFRJ). Líder no CNPq do Grupo de Pesquisas Paisagens Híbridas – GPPH-EBA/UFRJ.
Toda obra individual ou coletiva publicado neste web site pertence ao seu autor ou ao Grupo de Pesquisa Paisagens Hibridas. © 2014 Grupo de Pesquisa Paisagens Hibridas - EBA - UFRJ