O paisagismo no Brasil, no início do século XXI, ainda parece ser interpretado por alguns setores da sociedade como algo abstrato. O termo abstrato ganha sentido à medida que tanto a população, que usufrui dos espaços livres públicos e privados, quanto aqueles que, por formação, são “os responsáveis” pelo desenho de paisagens - no que tange a ideia do planejamento paisagístico -, aparentemente estão submetidos a uma série de restrições ideológicas. Isso acontece quando a questão se refere ao Paisagismo como disciplina autônoma ou a uma cultura paisagística que dê conta das dimensões reais que este campo disciplinar possui.

Tais restrições não somente limitam o real entendimento dos fundamentos e das práticas que norteiam o planejamento da paisagem como também evidenciam que as prerrogativas conceituais e teóricas, que definem o paisagismo
stricto sensu, parecem ainda estar aquém de ser interpretados com  precisão. As leituras a que o paisagismo vem sendo submetido talvez, ainda, não dêem conta de quais são suas matrizes históricas no âmbito nacional,  dada à sua ordem de importância na construção de nossas paisagens, e quais são as dimensões desta área de atuação prática e científica.

Tem-se convencionado o paisagismo
stricto sensu como disciplina correlata a outras áreas e não um campo independente. Todavia, apesar da mesma possuir ramificações e aproximações com outros campos disciplinares, ainda assim o paisagismo guarda em si um DNA próprio. Tais convenções deslocam a disciplina para o campo do “senso comum”, onde se desconsidera o grau de complexidade que a mesma possui, como também se descarta a possibilidade de a mesma ganhar um corpo independente que, em tese, deveria ser regido pelo seu próprio domínio.

Não parece haver dúvidas de que nas últimas décadas o saldo obtido com pesquisas acadêmicas e avanço técnico na área de paisagismo, especialmente na construção de projetos de grande envergadura, justificam a importância desta área.  Comprovam-se resultados desse avanço naquilo que se materializa no meio ambiente urbano. Tendo isso em mente, e entendendo que o paisagismo ainda se apresenta como um campo disciplinar em construção no país, não é de se admirar que, nos últimos anos, pesquisas que examinam a trajetória histórica e a prática do paisagismo no Brasil se multiplica no campo acadêmico. O avanço no estudo dos conceitos que envolvem esta área se acelera e parece já indicar que potenciais mudanças nesse campo profissional já podem ser esperadas para os próximos anos, sobretudo quando se vislumbram  as novas demandas  e urgências que se impõem na construção de nossas cidades.

O significado dos debates sobre o paisagismo no Brasil se espraiam por diferentes campos, sendo que um deles envolve diretamente a prática do ensino no âmbito do terceiro grau. São tantas as variáveis e as incógnitas nesse campo que o debate torna-se inconclusivo e, em alguns momentos,  acirrado, pois, determinados campos profissionais, solicitam para si, a hegemonia na atuação nesta área e opõem-se à possibilidade do paisagismo atingir a sua maioridade no país e, com isso, ganhar autonomia.  Autonomia dada pelo investimento real  na formação de um profissional específico nesse campo, como na criação de mecanismos legais que justifiquem esta profissão no país.

Considerando cada um dos pontos acima abordados, a Plataforma Paisagens Híbridas |EBA/UFRJ, o GT | RIOPAISAGISMO e a Escola de Belas Artes |EBA/UFRJ convidam a comunidade acadêmica
, profissionais e demais interessados no assunto a participarem das mesas-redondas, do  fórum de debates e  conferências do Simpósio internacional Paisagismo(s) no Brasil: um campo hegemônico em debate que reunirá, nos dias 12 e 13 de março de 2014, na Escola de Belas Artes | UFRJ. O simpósio reunirá professores, pesquisadores e profissionais do Brasil e exterior para debaterem os caminhos e os entraves - acadêmicos e profissionais - no campo do paisagismo. O desafio é indicar ações alternativas para que o paisagismo seja reinterpretado a partir de bases que considerem, sobretudo, a sua autonomia como campo disciplinar e profissão no Brasil.