Profa. Vera Tângari e Prof. Rubens Andrade
Tópicos especiais em arquitetura II (45h) | 711 – FAH 811
2º Trimestre: 26 de junho de 2019 a 11 de setembro de 2019. | Quarta-feira, 14:00 – 17:30 – Sala 443
O Curso
Produto humano, fato da cultura, a paisagem traz impressa em tudo que a constitui: suas pautas, rituais e os significados simbólicos da sociedade que a produziu. Traz em si, portanto, forte componente ideológico que pode ser analisado a partir de sua formulação, como também na apropriação pela sociedade.
Através de uma perspectiva que assume um caráter político e cultural, e fundamentado pelos rigores das teorias e conceitos do campo de estudo da arquitetura da paisagem, desenha-se o pano de fundo reflexivo que será o fio condutor do curso com a finalidade de discutir a dimensão e o papel dos estudos da paisagem como matriz conceitual cujo vigor permite interpretar as relações entre cultura e natureza no ambiente construído.
O recorte temático e o objeto da disciplina voltam-se para um área de estudos fértil que revela desafios teóricos a serem enfrentados. Nesse sentido partiremos da compreensão crítica das práticas de organização do tecido urbano assim como formularemos análises para o processe de hibridizações culturais que se estabelecem na cidade e resguardam os estudos da paisagem em seu campo ampliado.
A escolha da arquitetura da paisagem como tema da disciplina aponta para diversos conceitos, mas também para instrumentais metodológicos cuja contextualização crítica solicita o estabelecimento de critérios, sejam eles associativos ou comparativos, que articulem objetos, ações e questões sob o prisma de domínios históricos, sociológicos, morfológicos e paisagísticos.
Os conceitos de cidade e campo, espaço e lugar, sociedade e natureza, arte e ambiente estabelecem-se como argumentos essenciais para o entendimento do recorte temático da disciplina: os estudos da paisagem, seus hibridismos culturais, conflitos espaciais e complexidades sociais
O ponto de partida da discussão das bases epistemológicos propostas pela disciplina optam pelo campo de estudos da Arquitetura e Urbanismo e seus atributos, alusivos à técnica, à arte e aos métodos de organização do espaço e da construção do lugar. A argumentação apoia-se no arcabouço teórico-metodológico tributário aos estudos urbano-paisagísticos, que, em particular, firma-se nas últimas décadas como área de excelência disciplinar e de conhecimento avançado.
Tais argumentações, transitarão pelos aportes teóricos relativos às ideias de invenção da paisagem e ao arcabouço teórico que se firma para pensar os conceitos de cultura paisagística, pois seus fundamentos instauram uma compreensão dialética que confere o sentido e possibilita diferentes interpretações urbano-paisagísticas como matriz conceitual e elemento problematizador que se auto-defina.
A arquitetura da paisagem apresenta-se como território teórico que abriga e assegura o trânsito de ideias interdisciplinares e expansão de conceitos através do arco dos estudos contemporâneos.
O atravessamento entre tais campos de estudo pode revelar caminhos para a crítica de arranjos interpretativos a partir de padrões, símbolos e signos que se manifestam na morfologia do tecido urbano, afinal, ambos se revelam através da história da paisagem e, propriamente, na materialidade dos ambientes construídos.
O efeito que se quer gerar com tal movimento não é a subversão ingênua ou a banalização de conceitos, levando o contraditório ao seu limite – este não é o argumento estruturante da questão aqui apresentada.
A ideia é justamente o oposto disso, ao sinalizar, entre outras questões:
a) a rejeição de um aparelhamento sistêmico que reproduz conceitos;
b) a consequente desnaturalização teórica de conceitos aplicados até a sua exaustão e, por fim;
c) a crítica à mecanização de práticas analíticas da paisagem (auto-referenciadas) que carregam o estandarte de uma opaca rotina metodológica que, em tese, reescreve ideários, repete jargões, valida dogmas e, por isso, institui outros, congelando um debate que, por natureza, está sob o signo da anamorfose e pulsa através da reivindicação feita pelas forças produtivas avant garde.
O PROGRAMA
Sessão de Aula | Dia | Recortes Temáticos |
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26JUN | Apresentação da disciplina Programa, metodologia, referências |
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03JUL | Epistemologia dos estudos da paisagem I: arcabouços teóricos e enclaves metodológicos | |
BESSE, J. Marc. O gosto do mundo: exercícios de paisagem. Rio de Janeiro: UERJ. 2014. [As cinco portas do conhecimento – ensaio de uma cartografia das problemáticas paisagísticas contemporâneas, p. 33-61]. LUCHIARI, Maria Thereza Duarte Paes. A (re)significação da paisagem no período contemporâneo In: ROSENDAHL, Zeny; CORRÊA, Roberto Lobato. Paisagem, imaginário e espaço. Rio de Janeiro: UERJ, 2001, (p. 9 -28).datetime="2019-06-28T20:48:17+00:00"> Texto complementar COSGROVE, Denis E. Introduction to social formation and symbolic landscape In: DELUE, Rachael Ziady; ELKINS, James. Landscape Theory. New York: Routledge, 2008. [p.17-42]. |
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10JUL | Epistemologia dos estudos da paisagem II: histórias de lugares e a construção de cotidianos | |
THOMAS, Keith. O homem e o mundo natural. São Paulo: Cia de Bolso, 2010, [O dilema humano , p. 343-428]. SCHAMA, Simon. Paisagem e memória. São Paulo: Cia das Letras, 2009, [Introdução, p. 513-573]. Texto complementar SIMMEL. G. A ponte e a porta In: Revista Serrote, no. 17.Rio de Janeiro, IMS 2014., |
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17JUL | Epistemologia dos estudos da paisagem III: Quadrantes do mundo natural: pensar os recursos naturais, a ordem ecológica e a crônica sobre a poésis do jardim. | |
DIEGUES, Antonio Carlos Sant'Ana. O mito moderno da natureza intocada. São Paulo: HUCITEC, 1996.[O surgimento do movimento para a criação de áreas naturais protegidas nos estados unidos e suas bases ideológica (p. 23-34); Da crítica à exportação do modelo de parques nacionais norte-americanos (p. 35-38); Escolas atuais de pensamento ecológico e a questão das áreas protegidas (p.39-52); Escolas atuais de pensamento ecológico e a questão das áreas protegidas (p.53-62); As representações do mundo natural, o espaço público, o espaço dos "comunitários" e o saber tradicional (p.63-74)] CAUQUELIN, Anne. A invenção da paisagem. São Paulo: Martins Fontes, 2000. [Um jardim tão perfeito (p. 17-32); As formas de uma gênese (p. 33-42). Texto complementar WOOLF, Virgínia. A arte da brevidade. São Paulo: Autêntica, 2017. [Kew Gardens, p. 99-119]. |
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24JUL | Epistemologia dos estudos da paisagem IV: lugares imaginários e referenciais simbólicos | |
ECO, Umberto. História das terras e lugares lendários. São Paulo: Record, 2013, [Os lugares de romance e sua verdade,p. 431-461]. TUAN, Yi-Fu. Paisagens do medo. São Paulo: Unesp, 2005, [Medo da natureza humana: fantasmas, p. 179-208]. CLAEYS, Gergory. Utopia: a história de uma ideia. São Paulo: SESC, 2013, [A Era Clássica, p.17-28; Arquétipos Cristãos: paraíso e inferno; milênio e apocalipse , p. 29-43]. |
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31JUL | Seminário – Domínios da paisagem I | |
07AGO | Paisagem e hibridismos culturais I: a esfera política-cultural e os reflexos no ambiente construído | |
GUATTARI, Felix. As três ecologias. São Paulo: Papirus, 2012. TORRES, Ana Clara. Paisagens urbanas: uma reflexão da cidade em movimento In: TERRA, Carlos; ANDRADE, Rubens. Paisagens culturais: contrasdes Sul-Americanos. Rio de Janeiro: EBA Publicações, 2008. |
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14AGO | Paisagem e hibridismos culturais II: resgatando histórias, produzindo o lugar | |
WAGNER, Roy. A invenção da cultura. São Paulo: Cosac Naify, 2010. [O poder da invenção, p. 75-122; A invenção do eu , p. 123-164]. COLLOT, Michel. A paisagem na arte moderna contemporânea In: CARDOSO, Isabel Lopes. Paisagem patrimônio. Lisboa: Dafne, 2012, (p. 111-127). |
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21AGO | Paisagem-jardins – arcádias urbanas contemporâneas I | |
MOORE, Charles W.; MITCHELL, William J.; TURNBULL JR., William. A poética dos jardins. São Paulo: Unicamp, 2011, [O lugar do paisagista , p.25-63]. ÁLVAREZ, Darío. El jardim em la arquitectura del siglo XX. Madrid: Editorial Reverté, 2007. [Arcádias sintéticas (p. 410-430); Geometrias de la memoria (p. 431-447); La naturaliza reinventada (p. 449-470)]. RANCIÈRE, J. O destino das Imagens. Rio de Janeiro: Artefíssil, 2003. (O destino das Imagens, p. 9-42 e A frase, a imagem, a história, p. 43-78). Texto Complementar SALDANHA, Nelson. O jardim e a praça. Rio de Janeiro: Atlântica Editora, 2005. (Dos jardins à ordem pública, p.41-56). |
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28AGO | Paisagem-jardins – arcádias urbanas contemporâneas II | |
DAVID, JOSHUA; HAMMOND, Robert. High Line: a história do parque suspenso de Nova York. São Paulo: Bei, 2013. HADJADJ, Fabrice. O paraíso à porta: ensaio sobre uma alegria que desconcerta. São Paulo: 2015. (p. 76-116). CONAN, Michel. The garden of seasons by Bernanard Lassus: Coming to Terms with Fleeting encouters in a Desentered World In: CONAN, Michel.Contemporary Garden aesthetics, creations and interpretations. Whashigton, D.C.: Dumbarton Oaks, Harvard University, 2007, (p. 99-119). |
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4SET | Paisagem-ciborgue – conceitos à deriva e em expansão | |
FELICE, Mássimo di. Paisagens pós-urbanas: o fim da experiência urbana e as formas comunicativas do habitar. São Paulo: Annablume: 2009. [As formas eletrônicas do habitar, p. 149-160; Trânsitos eletrônicos, p., p. 167-204]. SANTAELLA, Lucia. Culturas e artes do pós-humano: da cibercultura da midias à cibercultura. Sâo Paulo: Paulus, 2003. [cultura midiática, p. 51-60; Uma visão heterotópica das mídias digitais, p.61-76, Substratos da cibercultura, p. 77-113] Texto Complementar FONSECA, Lilian Simone Fonseca Godoy. Biotecnologias: novos desafios e nova responsabilidade à luz da ética de Hans Jonas. Belo Horizonte: UFMG, 2015. [O homem na era tecológica, p.31-70]. |
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11SET | Seminário – Domínios da paisagem II |
REFERÊNCIAS
ÁLVAREZ, Darío. El jardim em la arquitectura del siglo XX. Madrid: Editorial Reverté, 2007.
BESSE, Jean-Marc. O gosto do mundo: exercícios de paisagem. Rio de Janeiro: Eduerj, 2014.
CARDOSO, Isabel Lopes. Paisagem patrimônio.
CAUQUELIN, Anne. A invenção da paisagem. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
CLAEYS, Gergory. Utopia: a história de uma ideia. São Paulo: SESC, 2013.
CORNER, James. The landscape imagination. Collected enssays of James Corner 1990-2010. New York: Princeton Architetural Press, 2014.
DELUE, Rachel Ziady; ELKINS, James (Editors). Landscape teory. New York: Routledge, 2008.
EAGLETON, Terry. A ideia de cultura. São Paulo: Edusp, 2000
ECO, Umberto. História das terras e lugares lendários. São Paulo: Record, 2013.
GUATTARI, Felix. As três ecologias. São Paulo: Papirus, 2012
MOORE, Charles W.; MITCHELL, Willian J.; TURNBULL JR., Willian. A poética dos jardins. São Paulo: Unicamp, 2011.
MOSTAFAVI, Mohsen; DOHERTY, Gareth. Urbanismo ecológico. São Paulo: Gustave Gilli, 2014.
PÉRIGORD, Michel; DONADIEU, Pierre. Le paysage. Paris: Armand Colin, 2012.
RIBON, Michel. A arte e a natureza. R: Armand Colin, 2012.
ROSENDAHL, Zeny; CORRÊA, Roberto Lobato. Paisagem, imaginário e espaço. Rio de Janeiro: Eduerj, 2001.
SCHAMA, Simon. Paisagem e memória. São Paulo: Cia das Letras, 2009.
SOLNIT, Rebecca. A história do caminhar. São Paulo: Martins Fontes: 2016.
TERRA, Carlos; ANDRADE, Rubens. Paisagens culturais: contrastes Sul-Americanos. Rio de Janeiro: EBA Publicações, 2008.
THOMAS, Keith. O homem e o mundo natural. São Paulo: Cia de Bolso, 2010.
TUAN, Yi-Fi. Paisagens do medo. São Paulo: Unesp, 2005.
WAGNER, Roy. A invenção da cultura. Cosac Naify, 2010.
WOOLF, Virgínia. A arte da brevidade. São Paulo: Autêntica, 2017.
Professor Associado da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Docente da Escola de Belas Artes (História da Arte e Paisagismo) e do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – ProArq/UFRJ, Paisagista (EBA/UFRJ), Mestre em Arquitetura (ProArq –FAU/UFRJ) e Doutor em Planejamento Urbano e Regional pelo (Programa de Pós-Graduação de Planejamento Urbano e Regional-IPPUR/UFRJ). Líder no CNPq do Grupo de Pesquisas Paisagens Híbridas – GPPH-EBA/UFRJ.
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